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Tendências jul 31, 2024

Overtourism: um desafio dos novos tempos para os principais destinos do mundo

Como o excesso de turistas tem afetado cidades icônicas ao redor do mundo e o que os destinos têm feito para amenizar os impactos dos visitantes sem deixar de reconhecer a importância do turismo para quem viaja e para quem recebe.

Foto: Unsplash. Park Güell, Barcelona, Espanha.

Tem sido cada vez mais frequente nos depararmos com o termo overtourism, ou em tradução livre, “turismo excessivo”. O fenômeno do turismo massivo tem causado consequências sociais e ambientais cada vez mais sérias em várias cidades ao redor do mundo, além de gerar atritos entre os visitantes e quem vive no local e acender polêmicas que compõem essa questão complexa.

Cidades como Barcelona, Amsterdã, Veneza, Mallorca e Copenhague estão implementando medidas para mitigar os efeitos negativos do excesso de turistas em suas cidades. As respostas a esta crise variam, mas todas apontam para a necessidade de um equilíbrio sustentável entre o bem-estar dos moradores locais, os anseios dos visitantes e a prosperidade econômica trazida pelo turismo.

Barcelona: uma nova abordagem

Recentemente, Barcelona anunciou que abandonará seu famoso slogan “Visit Barcelona”em um esforço para controlar o fluxo turístico. A cidade pretende deixar de ser vista como um destino de massa e focar em atrair visitantes que respeitem o estilo de vida local e contribuam para a economia de maneira mais sustentável. A iniciativa visa melhorar a qualidade de vida dos residentes, que há anos reclamam do impacto do turismo excessivo em seus bairros.

Amsterdã: equilíbrio entre turismo e vida local

Amsterdã está adotando uma abordagem semelhante. A cidade tem enfrentado um aumento constante no número de turistas, o que levou a problemas como aumento do custo de vida, défict de imóveis para moradia e congestionamento excessivo sobretudo nas regiões centrais.

O objetivo das autoridades locais é encontrar um equilíbrio entre turismo e vida local, garantindo que a cidade permaneça atraente e economicamente viável para os moradores. Entre as medidas implementadas estão a restrição para a abertura de novos hotéis, mais rigidez nas regras de aluguéis por temporada e a promoção de áreas menos conhecidas da cidade como opção de hospedagem para dispersar os turistas que se concentram nos bairros centrais de Amsterdã.

Foto: Unsplash. Amsterdã, Holanda.

Veneza: taxa turística e banimento de grandes grupos

Veneza, um dos destinos turísticos mais populares do mundo, introduziu recentemente uma taxa de EUR 5 para visitantes que vão apenas passar o dia na cidade como parte de sua estratégia para combater o overtourism. A medida, que está em fase experimental, visa reduzir o número de turistas de um dia e incentivar estadias mais longas e de maior valor econômico. Os resultados preliminares indicam uma redução no fluxo de turistas que ficam somente um dia, mas a medida ainda está sendo discutida.

Outra ação que começa a valer a partir de 1° de agosto na cidade é a proibição de grupos acima de 25 pessoas e do uso de alto-falantes. As excursões em grupo também não poderão estacionar os veículos em pontes, de acordo com o governo municipal. As restrições visam desencorajar a superlotação, reduzir a poluição sonora e promover a mobilidade dos pedestres.

Foto Unsplash: Veneza, Itália.

Mallorca: Pressão Popular por Mudanças

Em Mallorca a situação é ainda mais tensa, com moradores locais orgnizando grandes protestos e exigindo mudanças significativas na gestão do turismo. A ilha, que é um dos destinos mais populares da Espanha, está vendo um aumento na demanda por políticas que limitem o número de turistas e protejam os recursos naturais. A pressão popular resultou em um debate acalorado sobre o futuro do turismo na ilha, com autoridades locais considerando várias opções para atender às demandas dos residentes.

Fonte: Estadão. Pessoas seguram placa que diz ‘turismo sim, mas não assim’, durante protesto na ilha de Mallorca. Foto: Jaime Reina/AFP

Maya Bay (Tailândia): recuperação do ecossistema

Outro exemplo que chamou atenção foi a praia de Maya Bay, na Tailândia. De visual paradisíaco, ela ficou famosa depois de aparecer no filme “A praia” com Leonardo Di Caprio. Em 2018, a ilha foi totalmente fechada para iniciar um processo de recuperação dos danos causados ao seu ecossistema pela superlotação diária de turistas no local. Inicialmente ela ficaria fechada por alguns meses e acabou sem acesso por quase quarto anos, reabrindo em 2022 com novas regras como horário de visitação reduzido e limitação da quantidade de pessoas.

Foto: Unsplash. Maya Bay, Ko Phi Phi, Tailândia.

O overtourism é uma questão complexa que exige soluções inovadoras adaptadas à realidade e às necessidades de cada destino. A vida das comunidades locais e o meio ambiente precisam ser respeitados, preservados e, em alguns casos, recuperados. No entanto, equilibrar essas questões em um mundo globalizado, onde o acesso à informação e os deslocamentos são cada vez mais fáceis e desejados por um grande número de pessoas, representa um verdadeiro desafio.

Existe ainda um outro grande impulsionador do overtourism: as redes sociais. Fotos perfeitas e editadas de lugares incríveis estão espalhadas por todos os cantos da internet. A atuação de influenciadores ditando regras de consumo e comportamento geram cada vez mais ansiedade por conhecer os lugares onde ‘todos’ estão indo e uma padronização cada vez maior na busca pelos mesmos destinos.

Na busca por soluções criativa, Copenhague tem se destacado. Para incentivar o turismo sustentável, a cidade está oferecendo recompensas aos visitantes que adotarem comportamentos ecologicamente saudáveis. Desde o dia 15 de julho, turistas que participarem de iniciativas verdes, como andar de bicicleta, viajar de trem ou ajudar na limpeza da cidade, ganham acesso gratuito a atrações culturais, aluguel de caiaques, refeições grátis, entre outros benefícios. O programa, chamado CopenPay, visa transformar as formas de se fazer turismo, deixando de ser um problema para o meio ambiente e transformando-o em uma força para mudanças positivas, incentivando ações sustentáveis através de recompensas financeiras e culturais que beneficiem a todos.

Foto: Unsplash. Copenhagen, Dinamarca.

O sucesso dessas iniciativas dependerá dos esforços de cada cidade em implementar mudanças que não apenas protejam seus habitantes e patrimônios, mas também mantenham sua atratividade para turistas que desejam experimentar a cultura local de maneira respeitosa e sustentável.

Por Júlia Guerra — Marketing Coordinator na SMI

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