O uso de telas é uma preocupação de todos nós, mesmo antes da pandemia, tanto para adultos quanto para crianças e adolescentes. Qual é o limite? Como podemos acompanhar a vida digital das crianças e a nossa? Isso é realmente possível? Essa é uma angústia que aflige muitos de nós.

Excesso de telas: o que mostram as pesquisas
E por que tudo isso é tão importante? A lista de problemas que podem surgir a partir do uso excessivo das telas, como celular e tablet, é imensa. Inclui obesidade, sedentarismo, problemas de sono, agressividade, miopia, estrabismo, perda de audição, problemas de postura, déficit de atenção e até mesmo a dependência digital.
Porém, as telas fazem parte das nossas vidas há muitos anos, não há volta. A geração que cresceu nos anos 1980 e 1990 já tinha, muitas vezes, suas rotinas organizadas pelos horários da programação de TV. Quem nunca teve o momento de almoço demarcado pela hora do desenho animado, por exemplo? Ou que poderia jantar assistindo uma novela, mas que não podia fazer bagunça na hora dos pais assistirem o jornal?
Hoje, muita coisa mudou em relação a essa programação. Foram surgindo canais destinados às crianças e, no lugar de horários específicos de programação para o público infantil, agora existem plataformas de streaming que mostram esse conteúdo a qualquer hora do dia. Existe uma variedade incrível de programas infantojuvenis e uma das grandes preocupações é exatamente o fato de que hoje os pequenos podem passar muitas horas seguidas “emendando” um episódio no outro, tudo sob demanda. E tudo que vale para as crianças, acontece também com os adultos.

Existe um limite aceitável para o excesso de telas?
Com a pandemia, sabemos que esse uso aumentou muito. Passamos, entre adultos, crianças e jovens, a depender das tecnologias para assistir aulas, fazer cursos, ir ao médico, ter momentos de lazer, manter contato com amigos e família e ficar bem informados. E por mais que tenhamos retomado as relações presenciais, ainda há um impacto muito forte desse mundo virtual no nosso dia a dia.
Com isso, ficaram cada vez mais frequentes as recomendações de pediatras renomados, tanto do Brasil quanto de outras partes do mundo, para exercer limites sobre esse excesso de telas para as crianças.
Mas sejamos realistas: basta uma olhada na rotina da maioria das famílias para saber que esses limites estão longe de serem uma prática constante. Surge, então, outro questionamento relevante: existe limite para os limites? Afinal, a gente precisa pensar também em como se acolher quando a supervisão das crianças em tempo integral não é possível ou quando não estamos conseguindo reduzir o nosso número de horas em frente às telas.

Existe o ideal, que inclui trazer as crianças para fazer as atividades domésticas conosco, cozinhar junto e incentivar que brinquem sem telas. E existe o que é real e possível, porque nem todos os dias vai funcionar como desejamos. Com esse raciocínio, cada vez mais é possível repensar o uso dessas telas. Será que podemos pensar em formas mais saudáveis de usar as telas? Apesar de existir uma vasta oferta de programas inadequados e vazios de conteúdo informativo ou educativo, as telas podem também nos aproximar de realidades que não teríamos contato em outras épocas.
Essa reflexão é necessária porque as telas e a internet não são boas ou ruins por si só, tudo depende do uso que fazemos delas. E não só em relação ao número de horas, mas de como vivemos esse mundo digital.
Segurança física x segurança virtual
A verdade é que a segurança virtual e a segurança física, incluindo mental são a mesma coisa. Quantas vezes não discutimos nas redes sociais ou nos sentimos mal por ler um comentário? Uma manifestação virtual também nos afeta por completo.
A internet é hoje a maior praça pública do mundo, e quando pensamos em crianças é preciso estar perto. É necessário instruí-los, trabalhar seu pensamento crítico, fazer acordos, manter o diálogo aberto e refletir junto. Assim como a proibição não serve para os adultos, ela também não ajuda as crianças. Nesse sentido, ao proibir como um todo, podemos levar ao efeito contrário, e eles irem buscar conteúdo escondidos ou sozinhos, o que os deixa ainda mais vulneráveis e desamparados.

Tempo de mudança
Essa não é uma mudança rápida, mas sim um processo, que precisa respeitar o tempo de cada um. Não existem regras universais estabelecidas para a convivência com as telas. Tudo começa com uma reflexão atenta, que ajude a entender quais são as demandas reais, mas também percebendo um universo de novas possibilidades que está se abrindo a partir das nossas próprias telas.
É importante lembrar o quanto somos exemplo para os mais novos também, não adianta cobrar algo dos menores se o que fazemos é o extremo oposto. Estamos sendo inundados todos os dias por telas e informações, é hora de repensar e refletir.
Por Marina Carvalheira — Writer na SMI