Seria o low profile a nova tendência de 2025?

Uma pesquisa nacional conduzida pela VTrends, da Vivo, revelou que 30% dos brasileiros desejam reduzir o tempo de uso de telas e moderar o consumo de tecnologia. Esse percentual é ainda maior entre os jovens de 18 a 24 anos, alcançando 35%.
Essa tendência reflete uma crescente preocupação com a saúde, tanto física quanto mental. O objetivo pode ser realizar as atividades do dia a dia com mais atenção e dedicação ou, ainda, reservar mais tempo para ler um livro, aprender um novo idioma, praticar um esporte ou experimentar uma nova aula na academia. Muitas vezes, esse movimento começa com a vontade de se desconectar por um curto período, mas acaba se transformando no desejo de permanecer off-line por tempo indeterminado.
JoLO — Joy Of Logging Off (prazer de se desconectar)
Nicole Silbert, líder de marketing LATAM da WGSN, empresa de tendências explica que “O JoLO não é um sentimento anti-tecnológico. Mas uma tentativa de usar a tecnologia de forma mais proposital e menos automática”.
Os hábitos que envolvem atividades manuais, contato com a natureza, experiências sensoriais e o uso de livros físicos e revistas impressas estão em alta. Anos atrás, o Kindle — leitor digital da Amazon — revolucionou o mercado editorial ao impulsionar a migração da leitura para o digital. No entanto, atualmente, muitas pessoas têm resgatado o apreço pelo livro físico. O mesmo ocorre com as revistas impressas: a Capricho, ícone teen dos anos 2000, retomou em 2025 a publicação de edições especiais, após ter encerrado sua versão impressa em 2015.

Segundo a Capricho, o foco está na publicação de edições especiais que proporcionem uma experiência diferenciada ao leitor. De acordo com a editora-chefe, Andréa Martinelli, o público vinha solicitando o retorno das edições impressas.
Como a geração mais conectada se tornou a que menos quer postar?
A redução da ansiedade, do estresse e da comparação são os aspectos mais destacados por aqueles que decidiram se desconectar. As gerações mais jovens — Millennials, Gen Z e Alfa — são as mais preocupadas com a saúde mental.
Ao se desconectarem, as pessoas encontram uma oportunidade de recuperar o equilíbrio e a sensação de paz, ao se dedicarem a atividades prazerosas e que oferecem uma experiência diferente daquela de rolar o feed por horas.
Diversos estudos apontam que reduzir o tempo de tela melhora a qualidade do sono, diminui o estresse e aumenta a capacidade de concentração. O turismo tem se mostrado um grande aliado nesse movimento, oferecendo experiências de detox digital em locais focados na natureza e na imersão cultural. Um exemplo disso é a ilha Ulko-Tammio, na Finlândia, onde os celulares não são bem-vindos e os visitantes são incentivados a não usá-los, a fim de aproveitar melhor a experiência local.
Festivais de música e retiros espirituais, onde o uso de celulares é proibido, também têm atraído milhares de pessoas em busca de conexões mais genuínas.

A psicóloga Fabíola Luciano, especialista em terapia cognitiva comportamental, em entrevista para “O Globo”, avalia como positiva a decisão, já que com o tempo off-line a pessoa passa a se conectar mais com a “vida real e com os desafios e vivências que ela traz”.
As crianças também estão sendo impactadas por essa tendência. Muitos pais estão repensando a exposição às telas e incentivando atividades como brincadeiras ao ar livre, leitura e jogos de tabuleiro.
Essa tendência ganhou ainda mais força com a proibição do uso de celulares nas escolas, que entrou em vigor em 2025 no Brasil e já está sendo adotada em diversos países, com proibições e restrições. O objetivo é resgatar a interação social, promover a aprendizagem sem distrações digitais e proteger as crianças dos impactos negativos das telas.
Viver primeiro e postar depois (ou não postar)
As curtidas na foto já nem são tão mais importantes assim, o que importa de verdade é viver e curtir o momento.
Se antes todos buscavam o feed perfeito, registrando cada momento, desde a festa do final de semana até o almoço em um restaurante numa terça-feira qualquer, hoje o verdadeiro luxo é ser low profile.
O “Feed Zero” é uma tendência crescente entre os jovens da geração Z, que preferem não postar ou, quando o fazem, optam pelos stories, que desaparecem em 24 horas. Isso resulta em publicações mais espontâneas e menos editadas, trazendo uma abordagem mais autêntica e real.

Se antes a conexão digital era sinônimo de status, agora o verdadeiro luxo é poder se desconectar e viver de fato. O mundo off-line nunca foi tão desejado.
Apesar dos benefícios, a transição para um estilo de vida menos digital pode ser desafiadora. O mundo atual exige presença on-line para o trabalho, os estudos e até para as relações sociais. Por isso, encontrar um equilíbrio entre o digital e o real é fundamental.