Com o avanço da tecnologia e o poder de influência das redes sociais, o turismo mudou. Atualmente, destinos considerados “instagramáveis” dominam os feeds e moldam o comportamento dos viajantes. Esse fenômeno, que já era comum em praias paradisíacas e cidades históricas, agora também se infiltra em territórios que envolvem locais marcados por tragédias, guerras ou morte.
O problemático nisso é que, em muitos desses lugares, a experiência deixou de ser sobre memória, reflexão e aprendizado e passou a ser apenas um cenário para selfies. Basta observar o comportamento de visitantes em Auschwitz, em Hiroshima ou no Memorial do 11 de Setembro, em Nova York. Pessoas sorrindo, fazendo poses ou até vídeos de dancinha em locais de sofrimento humano. O desrespeito não é só moral, mas também educativo, e mostra o quanto parte do público viaja sem entender o significado do espaço que ocupa.

O papel dos profissionais do turismo entra em vigor justamente neste cenário. Guias, agências, órgãos públicos e empresas privadas têm a responsabilidade de definir diretrizes claras sobre como esses destinos devem ser promovidos e vivenciados. O turismo não é neutro: ele comunica valores. E quando a comunicação falha, o impacto ético e cultural pode ser devastador.
O guia turístico, especialmente, é o elo entre o visitante e a história. Cabe a ele transformar o passeio em uma experiência de imersão, e não em um espetáculo vazio. Criar empatia, contextualizar o sofrimento humano e provocar reflexão são tarefas complexas, mas fundamentais. Afinal, como destaca o pesquisador J. Lennon (2000), um dos principais estudiosos do dark tourism diz que “visitar locais de morte e desastre exige um equilíbrio delicado entre o interesse humano e o respeito ético”.
O desafio, portanto, é duplo: aproveitar o potencial do turismo de luto para educar e emocionar, e ao mesmo tempo frear a espetacularização da tragédia. O ser humano sempre teve fascínio pelo mórbido, isso é parte da nossa natureza, mas cabe aos profissionais do turismo fazer com que o visitante saia desses lugares com empatia e consciência, não com mais uma foto para o Instagram.

Mas até que ponto vale a pena comercializar esses espaços? Quando órgãos públicos e empresas privadas transformam locais de dor em produtos turísticos, corre-se o risco de diluir o significado que deveria ser preservado. Ao investir em marketing que privilegia a estética, o “visual bonito”, ou experiências vendidas como “emocionantes”, muitos desses lugares acabam perdendo sua essência, onde deixam de ser territórios de memória e se tornam palcos de consumo emocional.
A fronteira entre preservar a lembrança e explorar a tragédia é fina, e nem sempre respeitada. Museus e memoriais deveriam servir para educar e corrigir os erros do passado, mas quando a lógica do lucro entra em cena sem critério, a narrativa se distorce. Em vez de promover reflexão, cria-se um espetáculo.
Empresas privadas também precisam entender que explorar comercialmente não é o mesmo que banalizar. Já os órgãos públicos têm o dever de garantir que políticas de preservação cultural e ética estejam acima do apelo turístico. É preciso uma gestão que priorize a memória coletiva, não o engajamento digital.
Porque no fim das contas, se um lugar marcado por dor é reduzido a um ponto de selfie, a história se apaga e o erro se repete. E o turismo, que deveria servir como ponte entre passado e consciência, acaba virando só mais um produto com filtro bonito e reflexão vazia.
Escrito por Rodrigo Ribeiro, Marketing na SMI.