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Cultura jul 29, 2025

A terra está girando mais rápido, e nós também!

No dia 22 de julho de 2025, a Terra registrou o dia mais curto do ano até agora, com 1,34 milissegundos a menos do que as habituais 24 horas, segundo o Serviço Internacional de Sistemas de Referência e Rotação da Terra. Pode parecer um detalhe técnico irrelevante, mas esse dado simbólico nos convida a uma reflexão mais profunda sobre o ritmo em que vivemos. Será que o mundo está mesmo girando mais rápido? E mais do que isso, será que estamos acompanhando esse movimento frenético sem perceber?

 Foto: NASA

Do ponto de vista científico, essas variações na rotação do planeta são naturais e causadas por uma combinação de fatores como o alinhamento da Lua, o derretimento das calotas polares que altera a distribuição de massa da Terra e até movimentos internos do seu núcleo. Apesar de pequenas, essas alterações são mensuráveis e podem ter consequências. Caso se tornarem mais frequentes, pode ser necessário nos próximos anos remover um segundo da contagem oficial do tempo, o chamado “segundo negativo”, algo nunca antes feito para manter a sincronia entre o tempo atômico e o tempo astronômico.

Enquanto a ciência debate milissegundos, a sensação coletiva é outra. Tudo parece mais rápido. Pulamos áudios, aceleramos vídeos, engolimos conteúdos, respondemos mensagens entre uma notificação e outra. A rotina se transformou em uma sequência de tarefas cronometradas e a impressão constante é a de que o tempo nunca é suficiente.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, os transtornos de ansiedade aumentaram vinte e cinco por cento em nível global após a pandemia, e uma das causas apontadas por especialistas é justamente a sobrecarga emocional provocada pelo excesso de estímulos e pela ausência de pausas intencionais. O psicólogo Daniel Wysocki afirma que esse ritmo constante e sem descanso compromete a qualidade do sono, reduz a clareza mental e afeta nossa capacidade de tomar decisões conscientes. A psicóloga Candace Kotkin De Carvalho acrescenta que o estilo de vida atual pode levar à exaustão crônica, à perda de conexão consigo mesmo e ao esgotamento criativo.

Estamos presos a uma engrenagem em que produtividade se confunde com valor pessoal e desacelerar parece, muitas vezes, um luxo inalcançável.

Foto: Adobe Stock

Nesse contexto, ganha força um movimento silencioso e necessário que propõe uma vida com mais presença, intenção e equilíbrio, o “slow living”. Inspirado pelo Slow Food nos anos oitenta e amplamente difundido por autores como Carl Honoré, esse conceito nos lembra que nem tudo precisa ser feito depressa. Algumas coisas simplesmente precisam ser feitas no tempo certo! É a revolução cultural que nos mostra que mais rápido nem sempre é melhor, permitindo que saboreemos as horas e os minutos em vez de apenas contá-los. O slow living não representa ausência de ambição, mas sim uma mudança de perspectiva que convida a priorizar a consciência em vez da correria. Estudos indicam que adotar esse estilo de vida pode reduzir o cortisol, melhorar o sono e a saúde cardiovascular, estimular a criatividade, aumentar a clareza mental e fortalecer os vínculos afetivos e a qualidade das relações.

Práticas simples como caminhar sem pressa, reduzir o tempo diante das telas, criar uma agenda mais leve ou simplesmente respirar com atenção já são formas poderosas de reaprender a viver no tempo real. Em vez de correr contra o tempo, a proposta é coexistir com ele e usá-lo de forma mais significativa.

Foto: Unsplash

O dia vinte e dois de julho pode até ter sido o mais curto do ano, mas o que realmente importa é como escolhemos viver o tempo que temos. Talvez o planeta esteja mesmo girando mais rápido, mas isso não significa que você também precise fazer o mesmo. Desacelerar, hoje, é uma forma de resistência, um gesto consciente de cuidado com a saúde mental, uma maneira de realinhar prioridades e reencontrar sentido para além da produtividade. Porque no fim das contas não se trata de fazer tudo e sim de fazer o que importa com quem importa e no seu tempo.


Por Alline Myrela – Marketing Analyst na SMI.