Tudo começou quando Jarbas Agnelli folheava o jornal e se deparou com uma fotografia de pássaros empoleirados em fios elétricos. A imagem, tirada pelo fotógrafo Paulo Pinto e publicada no Estadão, mostrava algo comum, quase banal. Mas, para Agnelli, aquilo não era só uma foto. Era uma partitura esperando para ser lida.
Movido pela curiosidade e pela sensibilidade de quem enxerga além do óbvio, ele decidiu transformar a posição dos pássaros em notas musicais e, para sua surpresa, surgiu uma melodia harmônica. Quase como se os próprios pássaros tivessem composto aquela música ao se posicionarem no espaço. O acaso virou arte.

A música, intitulada Birds on the Wires, ganhou reconhecimento internacional. Foi selecionada entre mais de 23 mil concorrentes no prêmio YouTube Play Guggenheim, promovido pelo Museu Guggenheim em parceria com o YouTube, consolidando a força da sensibilidade em um mundo muitas vezes apressado demais para perceber o belo.
Esse gesto simples, de olhar com atenção, revela algo poderoso: o mundo está sempre nos dizendo algo, mas só responde para quem escuta.
Essa história real, mesmo que já antiga, diz muito sobre a vida atual. Vivemos em um mundo acelerado, onde tudo passa diante dos olhos como telas sendo roladas quase no automático. Mas, assim como Agnelli viu música onde outros viam apenas fios, talvez o segredo esteja em desacelerar e reaprender a olhar. A beleza mora nos detalhes, mas só se revela para quem presta atenção.

Quantas melodias já passaram por nós sem serem ouvidas? Quantos momentos de poesia se esconderam nas linhas invisíveis do cotidiano? Quantas respostas o mundo nos deu e simplesmente não percebemos?
Vivemos tempos em que a atenção virou um luxo. Coisas pequenas, como um reflexo de luz, um gesto gentil, o voo de um pássaro, passaram a ser invisíveis. Estamos perdendo a capacidade de ver de verdade, e com isso, perdemos também o encanto. Mas o mundo ainda fala! Ele sussurra em pequenos gestos, cenas, silêncios, e, quando o olhamos com atenção e curiosidade, ele retribui.
A história de Birds on the Wires é mais do que uma música. É um convite à troca da distração pela presença, à vontade de enxergar o que está além da superfície, à escolha de ver poesia nas coisas simples.

A beleza está por toda parte: nas linhas de um céu cortado por fios, no som do vento, nos movimentos espontâneos da cidade, nas avenidas, nas brincadeiras das crianças, em cada pôr do sol. Basta afinar o olhar. Basta, talvez, só estar.
Porque, quando a gente vê o mundo com atenção, o acaso vira arte e nós voltamos a ser presença. E, quando olhamos o mundo com sensibilidade, ele retribui… sempre!
O mundo não parou de nos mostrar beleza, fomos nós que paramos de ver.
Por Alline Myrela – Marketing Analyst na SMI.