O ano de 2024 bateu recordes históricos de turismo, com mais de 1 bilhão de pessoas viajando pelos quatro cantos do mundo.
No ano passado, publicamos um artigo que apresentou o conceito de overtourism e destacou algumas das cidades mais afetadas globalmente. Você pode conferi-lo aqui.
Os números exorbitantes de turistas têm provocado erosão em marcos populares, superlotação no transporte público e congestionamentos ainda maiores no trânsito. Além disso, o aumento do custo de vida e dos preços dos imóveis tem forçado muitos moradores a deixarem suas regiões de origem.

Essa mudança afeta também o comportamento de investidores, que antes priorizavam moradias e aluguéis de longo prazo, mas agora concentram seus esforços em locações por temporada e hospedagens de férias. Esse novo foco pressiona ainda mais o mercado, encarecendo os aluguéis e excluindo uma parcela crescente da população local do acesso à moradia.
“À medida que os residentes experimentam os impactos diretos do overtourism— e quando sentem que o turismo é imposto a eles, em vez de terem uma palavra a dizer sobre como ele é desenvolvido e gerenciado — eles compreensivelmente se tornam mais vocais em seus apelos por mudanças”, explica Rebecca Armstrong, especialista em turismo sustentável da The Travel Foundation.
De acordo com uma pesquisa realizada pela empresa de monitoramento ambiental Murmuration, 80% dos viajantes visitam apenas 10% dos destinos ao redor do mundo.
O que pode ser feito?
Garantir moradia acessível, oferecer um sistema de transporte público eficiente, controlar os preços dos aluguéis e assegurar um salário mínimo digno são medidas essenciais para melhorar a qualidade de vida e priorizar o bem-estar dos moradores.
Além disso, incentivar que a população local abra negócios em áreas de turismo intenso permite que a comunidade se beneficie diretamente da presença dos visitantes, fortalecendo o comércio local e promovendo um desenvolvimento mais sustentável.
Locais superlotados e superfaturados não favorecem ninguém: tornam o cotidiano dos moradores estressante e comprometem a experiência dos turistas.
Rebecca também destaca que “manter as autoridades em colaboração com comunidades de destinos menos visitados, que desejam receber mais turistas, é fundamental para evitar que o problema do overtourism seja simplesmente transferido para outras regiões”. Essa estratégia ajuda os locais sobrecarregados pelo excesso de turistas ao direcionar o fluxo para áreas menos exploradas, beneficiando essas regiões enquanto “desafoga” as mais visitadas.

Optar por viajar de trem, carro, bicicleta ou mesmo a pé, fazendo paradas ao longo do caminho, pode revelar destinos que frequentemente passam despercebidos. Escolher acomodações de proprietários locais, fazer refeições em restaurantes da região e consumir de pequenos negócios são atitudes que geram impacto positivo direto nas comunidades visitadas.
O cenário brasileiro
O Brasil registrou um recorde de visitas estrangeiras entre janeiro e abril de 2025, recebendo mais de 4,4 milhões de turistas internacionais, um aumento de 51% em relação ao mesmo período de 2024.
Nossos vizinhos sul-americanos lideram o ranking de visitas internacionais neste ano, com Argentina e Chile no topo. Na sequência, destacam-se os Estados Unidos; entre os países europeus, Portugal, França e Alemanha são os que mais se destacam.

“O PNT (Plano Nacional do Turismo) traçou metas ambiciosas e ver este avanço reforça nosso compromisso em fazer do Brasil um líder do turismo na América Latina, firmando o desenvolvimento do setor, a geração de empregos e a promoção do Brasil como um destino de referência mundial”, disse o ministro do Turismo brasileiro, Celso Sabino.
Apesar do avanço positivo nos indicadores econômicos, o crescimento acelerado também acende o alerta para os impactos do overtourism em destinos populares do país. Cidades como Rio de Janeiro, Foz do Iguaçu, Salvador e Fernando de Noronha já enfrentam desafios relacionados à superlotação, pressão sobre recursos naturais e perda da qualidade de vida para moradores locais.
Esse cenário reforça a urgência de políticas públicas e estratégias de gestão turística mais sustentáveis, que equilibrem o aumento do fluxo de visitantes com a preservação do patrimônio cultural, ambiental e social das regiões turísticas brasileiras.
Por Verônica Lira — Marketing Analyst na SMI.