Como essa nova proposta está redefinindo o conceito de viagens sustentáveis com o objetivo de restaurar, revitalizar e gerar impactos positivos em ecossistemas e comunidades que recebem viajantes.

Nos últimos anos, um novo conceito tem ganhado atenção global nas discussões sobre turismo e também tem causado polêmica entre os estudiosos e atuantes na área. Trata-se do “turismo regenerativo”. O termo surge como uma abordagem inovadora que busca ir além das práticas de sustentabilidade, mas ainda enfrenta resistências por parte de quem já atua com o turismo sustentável há tempos e lida com o desafio de se desvencilhar das práticas de greenwashing adotadas pelo mercado.
Para evitar a armadilha de disseminar novos termos vazios ou movimentos que são bonitos na teoria, mas impossíveis de serem colocados em prática, um dos maiores desafios do turismo regenerativo é explicar seu conceito e suas formas de aplicação prática. Além disso, é necessário apontar as diferenças em relação a outros termos já conhecidos, como turismo sustentável, turismo responsável ou até mesmo o turismo de base comunitária, para maior compreensão dessa nova proposta.
Turismo Regenerativo vs. Turismo Sustentável
O turismo sustentável visa adotar uma série de práticas para minimizar os impactos negativos deixados pelos viajantes nos destinos visitados. Isso pode incluir compensações de carbono, programas de reciclagem, uso de energias renováveis e materiais biodegradáveis, para citar alguns exemplos. De maneira geral, o turismo sustentável busca mitigar ao máximo o dano causado pelo turismo, mas sem, de fato, alterar a lógica de exploração econômica e produtiva dos destinos e das comunidades.
Já o turismo regenerativo busca ir além. Aqui, o objetivo é criar uma interação profunda entre o eu (os turistas), o outro (as comunidades locais) e a terra (a natureza). Trata-se de entender o turismo de uma maneira holística e sistêmica, onde mais do que reduzir os impactos negativos, o próprio sistema econômico e social é pensado para a regeneração do meio ambiente e para proporcionar um modo de vida mais integrado e harmônico entre os seres vivos, os recursos naturais e materiais de uma comunidade. Ou seja, mais do que reduzir impactos negativos, a proposta do turismo regenerativo é maximizar os impactos positivos e pensar como os viajantes e as práticas turísticas podem contribuir para a regeneração do meio ambiente, a renovação de recursos e a ampliação do bem-estar geral.
Portanto, esses dois conceitos são interdependentes, e as práticas sustentáveis estão, sem dúvida, dentro da proposta regenerativa. Assim, não há competição entre os dois; eles se complementam e precisam caminhar lado a lado.
Outro ponto fundamental do turismo regenerativo é que, além de reflorestar ou neutralizar carbono, considerar os saberes ancestrais de comunidades tradicionais (incluindo suas práticas espirituais) é essencial para a manutenção da vida e do meio ambiente de um território. Em termos de monitoramento e avaliação de impactos, os indicadores qualitativos passam a ter igual ou até mais valor do que os indicadores quantitativos. Isso é importante para conseguir medir e escalar as ações ao longo do tempo.
Em síntese, o turismo regenerativo é definido por ações que não apenas evitam danos, mas ativamente restauram e melhoram as condições locais. Isso pode incluir desde a recuperação de habitats naturais até iniciativas sociais que beneficiem diretamente a população local. A abordagem regenerativa envolve a colaboração entre diversos atores, como comunidades, empresas, ONGs e governos, todos trabalhando juntos para desenvolver práticas turísticas que promovam a resiliência ecológica e social.

Desafios do Turismo Regenerativo
Implementar práticas regenerativas enfrenta desafios significativos:
- Falta de Compreensão: Esse talvez seja o maior dos desafios. Há uma necessidade de maior compreensão sobre o que realmente é o turismo regenerativo (um conceito relativamente novo), tanto por parte dos turistas quanto dos operadores turísticos e governos.
- Obtenção de Financiamento: Práticas regenerativas frequentemente requerem investimentos elevados, e a obtenção de fundos pode ser complexa.
- Colaboração Necessária: A colaboração entre todas as partes interessadas é essencial, mas muitas vezes limitada, o que pode retardar a implementação de iniciativas regenerativas.
- Estabelecer uma Metodologia: Por se tratar de algo novo e em expansão, a falta de uma metodologia clara de trabalho ainda é um problema para escalar as ações do turismo regenerativo e conseguir uma expansão relevante dessa prática.
- Afastar-se do Greenwashing: Esse é outro desafio importante para que os conceitos da regeneração não sejam cooptados pelo mercado e por empresas que estão pouco preocupadas em realizar, de fato, uma mudança em sua atuação.

Olhar para o futuro
O interesse pelo turismo regenerativo está crescendo, com mais empresas e destinos adotando essa abordagem. A prática está se expandindo além do turismo, influenciando setores como a agricultura regenerativa. No entanto, é crucial garantir que as práticas sejam genuínas e bem implementadas para evitar o greenwashing e assegurar que os benefícios prometidos sejam realmente alcançados.
Por fim, o turismo regenerativo representa uma evolução significativa nas práticas de viagem, promovendo uma relação mais equilibrada e harmoniosa entre turistas, destinos e comunidades. Ao adotar essa abordagem, o setor turístico pode contribuir para um mundo mais sustentável e justo, onde a relação ganha-ganha beneficiará a todos.
Para entender mais sobre o tema, selecionamos alguns conteúdos relevantes que podem ajudar na compreensão do assunto (e foram consultados durante as pesquisas para a produção deste artigo).
Skift (2024): Podcast. What the Heck Is Regenerative Tourism, Anyway?
Skift (2024): Regenerative Tourism: What Is It? What Are the Challenges?
The RegenLab for Travel (2023): Regenerative tourism explained: Mindset, trends, and examples.
National Geographic (2022): O que é turismo regenerativo e quais são seus benefícios?
Viajar Verde (2022): Turismo Sustentável e Regenerativo: existe diferença?
Por Júlia Guerra — Marketing Coordinator na SMI