
Em uma era marcada por incertezas e emoções negativas recorrentes, o mundo do design e da hospitalidade encontrou um aliado fascinante no campo da neuroestética. Este campo de estudo em crescimento explora o profundo impacto que as experiências visuais têm em nossa saúde mental e percepção global do mundo. Enquanto navegamos nesta era BANI (que significa frágil, ansiosa, não linear, incompreensível), estamos cada vez mais recorrendo ao nosso entorno sensorial para acalmar nossos estados emocionais.
Mas afinal, o que é neuroestética e como ela se relaciona com o design e o mundo dos hotéis?
Tradicionalmente, a estética tem sido o domínio das humanidades, um assunto explorado por filósofos e artistas. No entanto, o aumento do interesse pela neuroestética reflete a percepção de que as experiências visuais estão profundamente interligadas com nossas emoções e bem-estar mental. Estudos demonstraram que os seres humanos processam a arte na mesma região do cérebro onde processam as emoções. Essa conexão é profunda, pois sugere que a arte e o design podem desempenhar um papel fundamental na formação de nossos estados emocionais e percepções do mundo.

A sinergia entre neuroestética, design e hospitalidade é particularmente intrigante. Ela abre novas oportunidades para criar ambientes que não apenas agradam visualmente, mas também têm um impacto positivo em nosso estado de espírito e emocional. Considere o design de hotéis, por exemplo. Com a compreensão da neuroestética, arquitetos e designers de interiores podem criar espaços que não apenas agradam aos olhos, mas também nutrem uma sensação de calma e bem-estar.
Desenvolvimentos recentes no campo levaram à exploração da arte e do design como antídotos para o estresse e a ansiedade. Em Bruxelas, profissionais de saúde mental iniciaram uma abordagem única para o gerenciamento do estresse por meio da terapia artística. Essa “prescrição de museu” envolve pacientes visitando instituições culturais, onde se envolvem com a arte para melhorar sua saúde mental e bem-estar. Estudos demonstraram que essas experiências podem levar a resultados notáveis, tanto em termos de melhora na saúde mental quanto na expectativa de vida.

Susan Magsamen, diretora executiva do Laboratório Internacional de Arte e Mente da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, descobriu que envolver-se em uma atividade artística por mês pode aumentar a expectativa de vida em uma década. Aqueles que frequentam museus, galerias, concertos ou participam de atividades relacionadas à arte algumas vezes por ano tendem a viver mais.
“Estamos literalmente fisicamente conectados a essas artes e experiências estéticas. Queremos sentir.” — Magsamen enfatiza. Isso é um testemunho de nosso desejo inato por experiências estéticas

A neuroestética não se limita apenas a formas de arte tradicionais. Ela também incorpora tecnologia de ponta para criar experiências imersivas. Por exemplo, a instalação “Room to Breathe” em Londres, idealizada pela Pixel Artwork em colaboração com o compositor Matthew Wilcock e a consultora de ansiedade Jayne Cox, oferece alívio aos ansiosos. Esta instalação sensorial combina visuais cativantes de nuvens em movimento e céus serenos com música projetada para orientar a respiração regulada, induzindo um estado de espírito relaxado. É um exemplo de como a tecnologia moderna e as experiências artísticas podem se unir para melhorar o bem-estar mental.
Mesmo no mundo do design, a neuroestética está deixando sua marca. A Ideal Standard, um fabricante de soluções para banheiros, abraçou esse conceito por meio de designs que melhoram o humor. O diretor de design, Roberto Palomba, explica: “Este projeto surgiu porque não estamos apenas retomando nossa identidade com base em aspectos técnicos, mas também em estética, na união de funcionalidade e emoções, design e desempenho.” Isso é uma indicação clara de que as emoções se tornaram parte integrante do design, com a estética desempenhando um papel fundamental em como nos conectamos com nosso ambiente.
Em conclusão, a neuroestética trouxe uma nova dimensão para nossa compreensão de como a arte, o design e a hospitalidade podem influenciar positivamente nossa saúde mental e bem-estar. Ao reconhecer a profunda conexão entre experiências visuais e nossos estados emocionais, podemos antecipar um futuro em que os espaços que habitamos e os produtos que usamos sejam criados de forma intencional para melhorar nossa qualidade de vida. Essa nova consciência não está apenas transformando o mundo do design, mas também fornecendo soluções inovadoras para hotéis e outros estabelecimentos de hospitalidade, à medida que buscam criar ambientes que deixem um impacto positivo duradouro em seus hóspedes.
Por Caíque Vinícius — Writer na SMI