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Cultura maio 27, 2022

O Último Turista

A ideia que tínhamos de turista tem que acabar

Desde quando começaram os lock-downs provenientes da pandemia ao redor do mundo que falamos sobre a tão esperada “retomada do turismo”, e essa retomada é o que estamos vivendo agora, ainda bem! Afinal foi uma das indústrias que mais sofreram os impactos da crise sanitária e em 2019 o turismo representava 10,4% do PIB mundial.

Para o ano de 2020 estava previsto o maior número da história de chegadas de turistas internacionais pelo mundo, em torno de 1,6 bilhão. Mas isso é um número empolgante ou assustador?

Veja o trailer do filme “The Last Tourist” (que ainda não está disponível no Brasil):

Além das imagens impactantes (e indigestas), algumas das frases citadas nesse pouco mais de 2 minutos de vídeo são:

Nós, como turistas, perdemos a noção”

“O turismo de massa levou à destruição”

“Os destinos mais aclamados têm os maiores índices de pobreza”

“Apenas 14% do dinheiro gasto no país fica no país”

“Consumidores tão inconsequentes”

“Cerca de dois bilhões de dólares são gastos por ano com turismo de trabalho voluntário”

“Houve um aumento de 75% nos orfanatos” e “Eles estavam lá porque eu queria estar lá”

“Se os turistas não pagassem dinheiro para ver esses entretenimentos, os entretenimentos mudariam”

“Mais de 500.000 animais estão sofrendo em todo o mundo por diferentes tipos de atrações turísticas”

“As pessoas precisam saber que estão prejudicando os próprios animais”

“A ideia que tínhamos de turista tem que acabar”

É isso, a ideia que se tinha de turista e de turismo precisa acabar! E o momento de reconstruir essa indústria é agora, aproveitar a chance da retomada representar uma renovação mais consciente, mais justa e mais respeitosa com a humanidade e com o planeta, afinal viajar só faz sentido porque no destino visitado há pessoas, cultura, natureza, animais e o nosso planeta.

As consequências do overtourism prejudicam toda a cadeia e deterioram o próprio produto. É como pensar que você está bebendo água para desidratar seu corpo e morrer. É preciso estar consciente que o overtourism “ampliou o impacto crescente sobre o meio ambiente, a vida selvagem e as populações vulneráveis ​​em todo o mundo”. Os turistas acabam destruindo as coisas que viajaram para ver, e no futuro restará apenas na memória e nas selfies postadas em #tbt no Instagram.

O que sempre brilhou meus olhos nessa indústria (a qual trabalho há uma década) é a troca de riquezas entre destinos, é aproximar o que nos é distanciado, desde um sorriso vietnamita à um anjinho na neve suíça. Viajar é conectar povos, culturas, paladares, é uma oportunidade de espalhar o bem e a paz pelo planeta, promove a conservação, a educação, é fonte de renda para muitas famílias, transforma positivamente a vida das pessoas.

Fomos forçados a parar durante os últimos anos e isso nos apresenta uma chance de fazer do turismo algo diferente. Mudar o rumo trágico que estávamos tomando e provar que essa indústria pode ser a maior riqueza global.

Para os profissionais de turismo, fica aqui a convocação para se conectarem com as empresas que remam contra essa corrente do overtourism. Não está apenas nas mãos dos viajantes fazer boas escolhas e disseminar boas práticas, está também na mão de quem trabalha em todas as fases do processo de viajar, afinal não haverá um elefante subindo escadas com turistas montados no lombo se essa “atração” não for comercializada.

E essa reflexão que trago aqui não tem nada sobre deixar as viagens menos acessíveis à população mundial, não é sobre elitizar e deixar ainda mais caro conhecer outros países. É sobre levar um impacto positivo e real para as comunidades locais, é sobre os hotéis contratarem esses moradores da região, preservar as identidades culturais e conservar o meio ambiente sem pasteurizar as paisagens locais e as experiências ao redor do mundo. Também é ter um controle sobre ocupação e respeitar a capacidade a ser comportada em cada local para que não prejudique o ambiente, é dar o direito que o dinheiro movimentado no destino fique no destino, assim melhorando a qualidade de quem vive ali e ajudando na conservação.

São várias as maneiras de reconstruirmos o turismo, as soluções já estão presentes, é uma questão de buscarmos mais informações e fazemos melhores escolhas.

Por Igor Romeu — Gerente de Marketing na SMI

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