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Tendências abr 24, 2023

Tudo ao mesmo tempo e agora: a cultura do imediatismo

A internet e as mídias sociais ajudam a otimizar o nosso dia a dia, mas também potencializam o imediatismo. Com o avanço das tecnologias, vivemos atualmente em um mundo globalizado onde recebemos a todo momento uma enxurrada de informações de inúmeras fontes e estamos sempre conectados, em smartphones, computadores ou tablets. Também existe uma cobrança em relação a precisarmos ser rápidos em compreender e responder todas essas informações.

Com essas aquisições parece que tudo deve ser imediato, feito agora, no presente. A habilidade da paciência está se tornando cada dia algo mais raro. Esse padrão de comportamento é chamado de cultura do imediatismo e vem afetando nossa maneira de lidar com o tempo.

Isso me faz refletir como esse tempo tem deixado de ser linear. O passado por exemplo, é apagado, pois com tantas transformações, uma conexão com o que é mais antigo parece inviável. O futuro é difícil de ser pensado já que tudo muda rápido demais e qualquer planejamento pode se tornar obsoleto. E o presente se mostra alargado, podendo ser considerado um “instante prolongado”.

O professor de estudos de mídia na The New School University de Manhattan, Douglas Rushkoff, fez um livro recente que se chama: “Present shock: When everything happens now”. Nele Rushkoff atribui a cultura do imediatismo às mídias digitais, onde o presente passa rápido e despercebido porque se pensa muito no momento seguinte.

Tudo ao mesmo tempo e agora

O ser humano sempre quis tudo para agora. Isso fica claro no comportamento das crianças, que têm dificuldade de abrir mão de um desejo imediato em detrimento de algo maior e mais significativo no futuro. Antes éramos ensinados e obrigados a esperar porque tudo acontecia mais devagar. Com a chegada da internet e das mídias sociais, tudo começou a se resolver rapidamente e ficamos mal-acostumados.

Se os adultos, que viveram essa transição se sentem assim, imagine as crianças, que nasceram nesse mundo conectado, com soluções rápidas e práticas (não necessariamente eficientes) para tudo. Sentimos dificuldade em sair do círculo imediatista porque essa cultura nos envolve de tal maneira que ficamos paralisados. Isso acontece porque, a todo momento, surgem coisas novas e nos sentimos sempre na obrigação de dar conta de tudo. Assim, perdemos a capacidade de planejar e de priorizar nossas atividades, o que pode transformar o cotidiano em um verdadeiro caos.

Dessa forma, nossas relações sociais vão ficando superficiais, tudo para mantermos nosso ritmo acelerado de vida e o padrão de produção e funcionamento da sociedade que nos é imposto. Os resultados são catastróficos. Estresse, ansiedade, transtornos psicológicos, irritabilidade, falta de paciência, intolerância com o diferente, além dos impactos ambientais e sociais.

A infância e o imediatismo

As crianças, além de sofrerem a influência dos adultos, pois reproduzem os comportamentos da família e de outras pessoas com quem convivem, são expostas cada vez mais cedo aos estímulos da tecnologia digital. Uma das principais consequências do contato com um mundo em que tudo tem que ser agora é o desenvolvimento da ansiedade ainda na infância. É importante que famílias, escolas e sociedade prestem atenção nisso, pois saber esperar e ter paciência são habilidades que precisam ser ensinadas e estimuladas.

Trata-se de um aprendizado emocional, que deve ser incentivado especialmente pela família, impondo limites e dizendo “não”. Assim, a criança pode começar a entender a importância de esperar a hora certa para cada coisa. Na correria, muitas vezes ficamos impacientes e terminamos a tarefa pelas crianças, mas é importante evitar esse comportamento e criar uma rotina que permita à criança trocar-se, guardar brinquedos, se alimentar, etc. com tranquilidade. Se você “passar por cima dela” e terminar as tarefas com rapidez, ela vai encarar isso como um padrão a ser imitado.

Os efeitos do imediatismo na sociedade contemporânea

Talvez o maior mal que a cultura do imediatismo provoca é impedir ou minimizar a capacidade de as pessoas de refletirem. Reflexão é sempre algo que demanda tempo e, como já sabemos, tempo é um luxo na sociedade em que predomina o instante prolongado. Sabendo que o imediatismo é um fenômeno de massa, somos levados a crer que a maior parte das pessoas age como autômatos. Isso significa que não há tempo para refletir sobre os próprios atos, formas de ser e de pensar.

Como fazer diferente?

A verdade é que a tecnologia está aí, não adianta querermos fugir. E as crianças estão crescendo nesse meio. Então o que fazer para ajudar a conviver com os avanços tecnológicos de forma mais sadia?

A meditação é algo que pode ajudar muito, já que é uma prática que possibilita o aumento da atenção e da memória, e a diminuição do estresse e da ansiedade. O autoconhecimento também é fator decisivo nessa jornada, pois nos conhecendo melhor, mais tolerantes seremos com nossos problemas e com os outros.

O contato cultural é outra forma, que funciona como expansão da mente. Ir ao teatro, ao cinema, visitar um museu, ir a um concerto, desde que longe de seu smartphone, permite contato direto com a arte. E a arte é uma grande propulsora de pausas e respiros.

Viajar também é algo que pode ajudar. Estar em outro local, conhecendo outra cultura e curtindo as férias sozinho ou em companhia você abre espaço para o novo e se conecta com outro tipo de espaço, principalmente quando a pessoa se permite estar em contato com a natureza. Mas, até nas viagens é preciso tomar cuidado para não virar imediatista e querer conhecer tudo sem aproveitar de fato o momento presente.

Outra possibilidade importante é aprender a criar um espaço de ócio. Onde se possa parar, desligar tudo e viver momentos de vazio. Mesmo, que eles sejam curtos, isso pode fazer toda diferença no dia a dia. Com algumas dessas práticas pode ser possível desenvolver relacionamentos mais saudáveis e reduzir o sofrimento imposto pelo imediatismo desde as crianças até os adultos.

Por Marina Carvalheira — Writer na SMI


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